À medida que vou evoluindo como treinador sinto que tudo aquilo que defendia, aplicava e ensinava até há bem pouco tempo, está agora errado… Até mesmo os primeiros artigos que comecei aqui a escrever há cerca de ano e meio, existem agora coisas que já não defendo ou aplico.
Creio que isto seja sinónimo de evolução, pois é esta constante mutação de pensamentos que nos faz crescer e evoluir e assim tornamo-nos melhores e mais competentes de dia para dia…
Mas o mais antagónico, e que há medida que vou adquirindo mais conhecimentos e percebendo melhor o jogo, vou-me tornando cada vez mais adepto das coisas simples…
Ora bem, se procurarmos na wikipédia a palavra Simplicidade, aparece-nos a seguinte descrição: “Simplicidade ou frugalidade é a ausência de artifícios, extravagâncias e excessos de ordem material, social ou psicológica. ”
Analisando esta frase, percebo então o porquê, pois quanto mais conhecimentos adquiro, mais percepção vou tendo do que é essencial, objectivo e específico, eliminando o que é fútil e excessivo, porque quanto mais simples forem os processos, mais fácil se torna para os atletas perceberem e assim interpretarem correctamente na quadra o que lhes é pedido.
Exemplo, os lances estratégicos (cantos, lançamentos, livres e saídas de pressão), quando antes tinha 3/4 situações para cada um destes lances, agora tenho apenas uma situação (posicional), mas com várias variantes, sendo estas decididas pelos os atletas no próprio momento, tendo como objectivo escolher a melhor opção, pois se analisarmos bem, além de ser difícil para um atleta lembrar-se durante o jogo de 3 ou 4 situações para cada canto, lançamento, livre e saída de pressão (que dá no mínimo 12 situações, fora as variantes), ainda é mais difícil a coordenação para todos se lembrarem ao mesmo tempo…
E como sou absolutamente contra a mecanização, por isso não gosto (nem entendo) as jogadas estudadas durante a construção do jogo ofensivo, pois entendo que isso é eliminar a criatividade e a capacidade de decisão do atleta, pois as situações são diferentes e mutáveis de momento para momento, e NINGUÉM consegue prever totalmente uma situação antes de ela acontecer, certo?
Resumindo, além de ser mais difícil, mais complicado e demorar muito mais tempo a treinar este tipo de modelo de jogo, pois é preciso muita concentração e coordenação colectiva, acho que o espectáculo fica prejudicado, pois as equipas que jogam baseadas neste tipo de princípios de jogo, acabam por ser muito "mecânicas", "robotizadas", previsíveis e nada espectaculares...
Por isso, hoje baseio o meu treino (e logicamente o jogo) na tomada de decisão dos atletas, sem nunca esquecer obviamente os princípios definidos no nosso modelo de jogo, mas levando sempre a que o atleta escolha a melhor opção em cada momento, alicerçada na objectividade e criatividade, mas principalmente na simplicidade… pois quanto mais simples for a acção, mais probabilidade de sucesso terá…
Pensem nisto…
Abraço.
Pedro Silva